Olhos nos Olhos com Roberto Vascon

"Quero ser reconhecido no meu país, onde nunca tive oportunidades", revela o designer de bolsas
Com muita sorte, esta história acontece em uma de um milhão de vezes. O designer de bolsas ROBERTO VASCON viveu o sonho americano. Mendigo em Nova Iorque, foi descoberto pela editora de moda do jornal The New York Times, o mais influente do mundo, virou "o mágico do couro" e fez bolsas para Madonna, Oprah Winfrey, Beyoncé, Aretha Franklin e outras celebridades. A infância sofrida. Noites frias em um banco do Central Park. Sucesso, fama e dinheiro. O recomeço nos Estados Unidos e a vida atual em Belo Horizonte. Tudo isso é contado em detalhes na recém-lançada biografia Nas Asas de Um Sonho - Uma História que Muda Vidas e Motiva Pessoas. Nascido Eli Roberto Vasconcelos Matos, aprendeu o valor da honestidade e do caráter quando furtou uma laranja e levou, da mãe, um soco na boca que arrancou oito dentes. Desde então, sempre que se sente tentado a fazer algo errado, lembra-se dos dentes perdidos.
De mendigo a celebridade. Como foi isso?
Vivi um conto de fadas, um dia nas latas de lixo, catando latinhas para sobreviver, e no outro no luxo. Logo veio a fama, o sucesso e o dinheiro e me tornei um dos mais desejados designers de bolsas da América.
Como se tornou mendigo nos Estados Unidos?
Não foi por opção. Eu não tinha onde dormir nem o que comer. Mas eu tinha certeza de que tudo passaria, e aprendi muito durante este tempo. Hoje, dou um valor imenso a pequenas coisas, como, por exemplo, um pedaço de pão.
O que foi comer grama com ketchup e mostarda que pegava no McDonald´s para não morrer de fome?
Foi muito difícil, sim. Às vezes, sonhava com arroz e feijão. Mas sou um homem de fé, mesmo com as dificuldades, sempre sinto a presença de Deus, e esta sensação me dá forças.
Como ser desconhecido no Brasil e uma celebridade lá fora?
É muito estranho. Com a mídia norte-americana e a europeia me dando toda cobertura possível, virei celebridade. No Brasil, ninguém me conhecia, mas sinto que está mudando e já estou feliz.
Como você virou designer de bolsas?
Eu não sabia que tinha este dom. Aí tive um sonho surreal, com pássaros. Eles chegavam em uma árvore e, quando eu brincava com eles, voavam em formato de bolsas com asas. Interpretei o sonho e, com os 90 dólares que tinha no bolso, depois de ter trabalhado por três dias numa delicatéssen, comprei couro, agulha e linhas para costurar doze bolsas.
Por que chamou a atenção da editora de moda do The New York Times?
Ela me notou no momento em que eu estava ajoelhado conversando com Deus. As bolsas que eu tinha feito estavam esparramadas na calçada. Ela parou, puxou conversa e me levou ao The New York Times. Depois, publicou a primeira matéria, me chamando de "mágico" falando sobre o meu trabalho, e o resto foi só alegria.
De onde tira inspiração para criar as bolsas?
As pessoas podem não acreditar, mas todas as bolsas que faço, tiro inspiração do sonho que tive com os pássaros se transformando em bolsas. Como vi milhares, então ainda tenho muitas ideias boas.
Com o sucesso nos Estados Unidos, por que voltar para o Brasil?
Voltei há dois anos, porque amo meu país, meu povo, minha gente. Falo vários idiomas, mas nenhum é tão lindo como o português. Quero ser reconhecido no meu país, onde nunca tive oportunidades.
O que os brasileiros têm a aprender com os Estados Unidos em questão de estilo e vice-versa?
Acho que eles têm que aprender com a gente. Somos tudo e um pouco mais. Mais felizes, mais cheios de vida. Enfim, tenho a tendência em acreditar que Deus é mesmo brasileiro.
Por que mudou o nome de Eli para Roberto?
Na realidade sou Eli Roberto. E aí virei Roberto Vascon. As pessoas vão ter de ler o meu livro para entenderem (risos)! Sou três em um. Um bom pacote.
Como foi fazer bolsas para Madonna, Oprah Winfrey, Beyoncé, Aretha Franklin e outras celebridades?
Prefiro as "donas Marias", mulheres comuns. Gente famosa tem tendência a ter o ego superaquecido. Isso me dá preguiça. Ego é um perigo. É como ter um degrau quebrado na escada da fama.
Qualquer sonho é, realmente, possível?
Todos os sonhos são possíveis. Mas os melhores são aqueles que a gente sonha acordado e corre atrás. E aí o cara, que é Deus, ajuda.
Jogo Rápido
Sonho: querer.
Qualidade: fidelidade.
Defeito: acreditar em todos.
Mania: falar com Deus o tempo todo.
Sim a: quem me sorri.
Não a: palavra impossível.
Brasil: raízes.
Estados Unidos: "obrigado".
Frase: querer é poder o impossível e querer e eu quero muito.